quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fantasma Reincidente


Lá estás tu outra vez…
A tua voz a exigir de mim aquilo que eu não te quero dar.
O teu toque a obrigar-me a preencher a minha alma da tua memória.
O teu olhar a esvaziar-se de mentiras poderosas e verdades dolorosas.
Será que desta vez vai ser diferente e a distância apagou a lembrança do êxtase do teu beijo?
Será que desta vez o tempo curou a abertura feita pelo teu punhal que jazia ao abandono na piscina de sangue do meu peito?
Será que desta vez estou livre do teu feitiço para finalmente poder lançar os meus?
Lá estás tu outra vez a invadir o meu ser com a tua música desconcertante que entorpece os sentidos e desarma a razão.
Lá estás tu outra vez montado num corcel branco a roubar a paz adquirida na tua ausência.
Lá estás tu outra vez com promessas vazias de purgar o breu da minha noite, que por força da minha luta interior encontrasse já estrelada.
Lá estás tu outra vez a aproveitares as minhas carências e a tratá-las com a mestria de um ladrão de sepulturas.
Lá estás tu outra vez a dar-me o calor que eu preciso, mas ao retirá-lo quando eu reclamo o que seria meu por direito, a retirar-me o calor, o chão, o céu e o mundo.
Lá estás tu outra vez a deixar-me chafurdar na lama que ajudaste a criar com o pó do teu desprezo e as lágrimas da minha dor.
Lá estás tu outra vez a pilhares o meu corpo e a violar a minha alma, alheio ao facto de não seres bem-vindo.
Desta vez é diferente!
Purifiquei-me da tua presença no meu espírito através dos quilómetros que nos separaram, dos corpos que me ampararam, da força que me impelia na incessante procura de pacificação interior.
Já conheço as tuas manhas e artimanhas, as tuas armadilhas e subtilezas que me levaram vezes sem conta de volta à angústia da tua teia.
Conheço de cor essas palavras cheias de esperança e falsidade, esse tom inocente e provocatório que ensaia a tua voz, esse toque sem tocar, esse querer sem querer, que me levou outrora ao desespero.
Desta vez não! Desta vez não és mais do que um fantasma do que já foste. Uma ameaça do passado que voltou para me assombrar. E eu já não sou a criança que fui…. Eu não tenho medo de fantasmas!
Desta vez não! Desta vez a sapiência adquirida na dor e o conhecimento drenado das lágrimas estão fervorosamente em alerta e em acção permanente para prevenir que eu volte a cair na tentação do teu sorriso.

Sem comentários: